Desde 1984 que o mundo não assistia a uma catástrofe humanitária
como a que está a ocorrer, neste momento, no Corno de África.
No início desta semana, o mundo ficou a conhecer Mihag Gedi.
Tem sete meses, pesa 3,4
quilogramas e a sua imagem é o retrato perfeito do que
está a ocorrer na Somália. Faminto, desidratado e com um sem fim de problemas médicos,
cometeu a proeza de chegar vivo a um campo de refugiados, no Norte do Quénia,
após ser carregado ao colo da mãe, durante uma semana, Uma epopeia de mais de 250 quilómetros ,
quase sempre a pé e que inclui também quatro dos seus sete irmãos. Muito
provavelmente, quando este texto estiver a ser lido, Mihag já estará morto. Tal
como ele, perto de uma centena de crianças perdem a vida diariamente, no Corno de
África. Uma tragédia que só tem paralelo com a crise humanitária ocorrida na
Etiópia e na Eritreira, em 1984, provocando, então, uma enorme mobilização
internacional graças ao Live Aid. As principais razões para o que agora está a
suceder na região é de todos conhecida: a pior seca dos últimos 60 anos e a
guerra civil na Somália. O número de pessoas afetadas dispensa comentários: 12
milhões. Mas as estatísticas e as estimativas não se ficam por aqui. Segundo
algumas organizações não governamentais, já em Agosto, as vítimas mortais podem
ascender a 2500 por dia. Um cenário que, a confirmar-se, «se converterá no escândalo
deste século», nas palavras de Bruno Le Maire, o ministro da Agricultura de
França.
Na passada segunda-feira, 25, a comunidade internacional
deu, finalmente, sinais de que algo tem de ser feito. Com urgência e empenho total.
Na reunião realizada em Roma, sobe a égide da ONU, vários governos começaram a disponibilizar
o dinheiro que será necessário para socorrer as populações em estado mais crítico
– em particular os 3,7 milhões de famintos, concentrados em duas províncias do Sul
da Somália. Foi de uma delas que saiu Mihag Gedi com a sua família. Mas os dólares
e os euros agora prometidos podem não ser suficientes para acabar com este espetáculo
insuportável para qualquer consciência humana», como afirmou Josette Sheran, a responsável
pelo Programa Alimentar Mundial. O Sul da Somália continua a ser controlado pela
Al Shabaab, uma milícia com ligações à Al Qaeda. E embora o grupo tenha dado luz
verde à entrada da assistência internacional – com sérias restrições – tudo indica
que a distribuição da ajuda será também um pesadelo logístico.
Fonte: Revista Visão (28 de Julho de 2011)
Catarina Bordalo
Catarina Bordalo
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